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Torto arado e as relações de cuidado

Entre personalidades, histórias e campos de conhecimento, são muitas as inspirações que formaram os pilares da Escola Aberta do Cuidado. Não poderia ser diferente, haja vista que cuidar é complexo. Somos, afinal de contas, seres complexos e contraditórios. A literatura é um dos campos de conhecimento e criação humana que influencia diretamente nosso cotidiano e consequentemente nossos projetos. Primeiro por ser uma fina expressão da linguagem, trilho fundamental para a compreensão das relações de cuidado e segundo por se propor a narrar, contar histórias, sejam elas quais forem. É o caso, por exemplo, de Torto Arado, obra fundamental da Literatura Brasileira Contemporânea, em que Itamar Vieira Junior narra com a mão forte da delicadeza uma história polifônica e permeada, em toda sua paisagem, por relações de cuidado. Seja na intimidade entre Bebiana e Belonisia, nas relações com a terra, na sabedoria ancestral de Zeca Chapéu Grande e Salustiana ou ainda o cuidado com os efeitos das mazelas estruturais como o racismo, as questões de gênero, os conflitos fundiários e a violência que ao mesmo tempo é consequência e circunstância. Contudo, o que chama muito nossa atenção é o próprio nome do livro “Torto Arado”, fazendo menção a esta ferramenta agrícola muito antiga que em suas primeiras versões era movida a tração animal, mas que, reinventada, persiste até hoje puxada por máquinas e tratores. Não podemos deixar de associar isso ao passado colonial e as feridas muito vivas da escravidão que se reinventam nos dias de hoje atualizando seus discursos no tempo-espaço atual. A teia que forma este país emaranhou-se há muito tempo e desenhou um relevo complexo em nossa História. É preciso cuidar, afinal “o vento não sopra, ele é a própria viração”.

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