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Uma jornada de cuidado, escuta e dignidade


A Sociedade da Neve é um filme de Juan Antonio Bayona inspirado em uma história real sobre o caso que ocorreu em 1972, quando o voo 571 da Força Aérea Uruguaia, fretado para levar uma equipe de rugby ao Chile, caiu em uma geleira no coração dos Andes. Apenas 29 de seus 45 passageiros sobrevivem ao acidente. Confinados a um ambiente hostil, os sobreviventes recorreram à medidas extremas para seguirem vivos.


São muitas as perspectivas sobre este emocionante filme, mas a marca que em mim ficou foi a do cuidado. A complexidade da experiência humana simbolizada na luta pela vida de uma pequena comunidade que ali se formou e que sobreviveu porque soube cuidar. A proteção coletiva, a escuta, a angústia compartilhada, a poesia nos momentos de dor, a memória, a resiliência e a amizade, tudo isso é cuidado: Não uma teoria ou uma idéia, mas uma postura frente a vida real e um compromisso com algo que vai além do próprio umbigo.


Guardadas as diferenças culturais e a proporção da experiência extrema, cada detalhe nesse filme me fez lembrar o Brasil Profundo e sua gente que também sobreviveu porque soube cuidar. As benzedeiras, as parteiras, os pajés, os cordelistas, os artesãos, os santeiros, as raizeiras e os pescadores, todo esse povo desenvolveu ao longo dos séculos inúmeras maneiras de conservar a vida, salvaguardar a memória e de resistir as intempéries mundanas. São herdeiros das encruzilhadas que formaram o Brasil pelos seus povos originários e diaspóricos. Grandes faróis de uma sabedoria profunda sobre a vida e suas nuances. A ancestralidade que carregam em seus olhos e coração nos inspiram e nos dão pistas para seguir a caminhada. Tive a honra e o privilégio de conviver com esse povo em uma grande viagem-pesquisa que realizei em 2017 quando percorri 20.000km pelas estradas e poeiras brasileiras.


Este Brasil cuidador é a matriz de um conhecimento que quero compartilhar com vocês em uma grande jornada de aprendizado, de resgate, de escuta e de reencantamento. Durante quatro meses percorreremos histórias do Brasil Profundo com a participação de quatro representantes desta valiosa cultura do cuidado: Dona Zefa da Guia, parteira e benzedeira da Serra da Guia/SE. Marcio Verá Mirim, cacique Guarani da Terra Indígena do Jaraguá, Ditinho da Congada, mestra da congada mineira, Domingos Santeiro, poeta, cordelista e escultor de Mariqua Quitéria/BA.


Nesta caminhada, vamos construir caminhos transversais entre as histórias destes personagens do chão brasileiro e as idéias de inúmeros pensadores e pensadoras de diversas áreas e disciplinas do conhecimento. A segunda edição da Jornada Caminhos do Cuidado será amplamente ilustrada com vídeos, textos, vasto material de apoio e participação ao vivo dos mestres do saber.


Se você trabalha com pessoas, se você escuta, se pensa o futuro, se cuida de algo, de alguém ou de si mesmo;  se imagina mundos possíveis, se tem interesse por territórios, cidades e comunidades; se trabalha com impacto social ou organizações do terceiro setor, se é terapeuta, se tem esperança nas pessoas e acredita na dignidade; se trabalha com políticas públicas, cultura ou educação então essa Jornada é para você.


Acesse a todos os detalhes desta jornada clicando aqui


Rodrigo Carancho

Fundador da Escola Aberta do Cuidado



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